Bica

Parque Arruda Câmara: Uma escola de preservação ambiental a céu aberto em João Pessoa

23/03/2025 | 08:00 | 313

O Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), em João Pessoa, recebeu recentemente cinco novos animais. São filhotes de serpentes fruto de tráfico ilegal de animais, apreendidos no estado do Rio Grande do Norte. Atualmente o Parque abriga um total de 420 animais, em 23 hectares de território e funciona como um centro de pesquisa, estudo, proteção e preservação das espécies, educação ambiental e lazer. Para ter acesso ao local é cobrada uma taxa simbólica de R$ 3,00. Crianças de até 7 anos, pessoas com deficiência (PcD) e adultos acima de 60 anos não pagam.

A bióloga, Helze Lins, explica que diversos animais que vivem na Bica  chegam oriundos de apreensões realizadas pelo Batalhão da Polícia Ambiental ou pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Não é permitido a Bica receber animais silvestres diretamente da população ou por meio de doação. As entregas voluntárias devem ser feitas à Polícia Ambiental (contato pelo 190) ou ao Cetas, sem risco de multa ou prisão.

Além de tráfico ilegal, como foi o caso das novas serpentes, os animais são resgatados de situações diversas como queimadas, acidentes de trânsito, choques elétricos, quando resgatados filhotes, nascidos em cativeiro ou criados como animais domésticos. A maior parte desses animais acaba permanecendo em espaços como a Bica, por apresentarem limitações que os impossibilitam de retornar à natureza.

No Parque, eles são tratados por especialistas e submetidos a cuidados adequados, alimentados e abrigados respeitando as especificações de cada espécie. Segundo Helze Lins, a reintrodução desses animais em seus habitats naturais é um dos principais objetivos, tanto do Parque Arruda Câmara, como do Ibama ou Organizações não Governamentais (ONGs). No entanto, esse retorno, muitas vezes não é possível e o zoológico acaba sendo a última opção de sobrevivência para esses animais.

Nesse cenário a existência de centros de preservação como os zoológicos é importante, também, para a preservação de espécies ameaçadas de extinção. Nessa condição a Bica tem espécies como a Onça Pintada, Suçuarana, Tamanduá Bandeira e os Macacos Galegos, que, inclusive, chegaram a ser considerados extintos.

A bióloga explicou, também, que, uma vez recebidos nesses espaços, é possível haver trocas entre zoológicos de diferentes estados. “Atualmente nós temos animais excedentes que já estão em negociação para serem enviados para outros zoológicos como o de São Francisco – Canindé, no Ceará. Temos um gato mourisco e um guaxinim que estão no setor extra da Bica. Tentamos juntar com grupos já existentes e não conseguimos a interação entre eles porque houve embates no recinto. O que acaba sendo um outro critério para a permanência do animal – o processo de adaptação”, destacou.

Espécies diferentes – As cinco serpentes recebidas recentemente na Bica são oriundas do estado do Rio Grande do Norte. Kleber Filho, ecólogo, responsável pelo Setor de Répteis da Bica, explica: “Eram cobras da espécie kingsnake, popularmente conhecido como cobra do milho, aquim snake, que são norte americanas. A python, que conhecemos como python carpete. Todos elas são serpentes não venenosas e filhotes. Estavam sendo transportadas como um equipamento de computador dentro de uma caixinha. E aí, quando o pessoal do aeroporto viu que eram serpentes, apreendeu”, relatou.

Tanto a Bica, como os diversos zoológicos espalhados pelo país recebem muitos animais fruto de apreensões de tráfico ilegal. Segundo Kleber Filho, os mais comuns são aves e répteis. “Os répteis, dependendo do tamanho, têm a facilidade de serem transportados em caixinhas. As aves são por conta do canto e pela vontade de ter um papagaio, que é um animal que fala”, reforçou.

Ele acrescenta que a compra clandestina de animais silvestres pode gerar multa e prisão para quem comercializa ou compra, com base nas leis federais de Proteção a Fauna (n. 5.197/67) e Crimes Ambientais (n. 9.605/98).

Outro animal recebido na Bica, recentemente, foi o Valentim, um tamanduá bandeira de quase dois metros de comprimento que veio do estado de Minas Gerais. Ele chegou no final de 2024 e um recinto foi construído para abrigá-lo. Inicialmente foi colocado com outros bichos, mas não se adaptou e a equipe da Bica decidiu mantê-lo sozinho no recinto.

A existência de espaços como o Parque Arruda Câmara também foi fundamental para a sobrevivência da anta Margarida Rose. Ela veio transferida de Rondônia após ter sido vítima das queimadas no estado, que a deixou com ferimentos nas patas e nas orelhas. O animal também foi vítima de um atropelamento que a deixou com dificuldades de locomoção. Seu tratamento tem sido à base de medicamentos e aplicação de ozônio e acupuntura.

Já os emus, ou Emas australianas, se adaptaram bem ao Parque Arruda Câmara. A espécie de ave terrestre, endêmica da Austrália, é a segunda mais alta do mundo, superada apenas pelo avestruz. O trio veio de Alagoas. O grupo é formado por uma fêmea e dois machos. “Uma curiosidade: os ovos são grandes e azuis e os machos é que chocam os ovos”, explica Helze Lins.   

Pesquisa – O ecólogo Kleber Filho lembra que a pesquisa também é muito importante para o Parque Arruda Câmara e cita como exemplo a produção do capitropil (medicamento anti-hipertensivo), produzido a partir do veneno extraído da cobra, da espécie jararaca. Outra pesquisa importante é a produção da cola biológica, que ajuda na cicatrização de feridas e na manutenção da homeostase (condição de estabilidade do organismo). É utilizada no tratamento em terapias regenerativas e em cirurgias hepáticas, cardíacas, neurológicas, entre outras.

“Nós temos os pilares do zoológico, que é a pesquisa, conservação, educação, o lazer e o bem-estar dos animais. Estudantes de instituições como a UFPB, UFCG e as universidades particulares e estrangeiras como da Inglaterra e de Portugal, vem para cá, usam o nosso zoológico como área de aprendizado, pesquisa, educação ambiental, além da importância para os animais, devido às possibilidades de fazermos os exames. É uma sala de aula a céu aberto, onde os estudantes conseguem ter acesso a mais de 400 animais, mais de 30 espécies diferentes de animais silvestres, além da área florestal”, reforça.

Educação Ambiental – “Utilizamos a Mata Atlântica que a gente tem aqui, a área preservada, os animais dos recintos e de vida livre, os nossos diversos olhos d’água para falar de preservação. Utilizamos todos esses espaços com informações para diversos tipos de públicos, sejam crianças, adultos ou idosos. Verificamos também de onde vêm essas pessoas, qual tipo de instituição, e aí utilizamos os conhecimentos que elas já têm para ampliar esses conhecimentos e conseguirmos fortalecer a ideia de preservação que já existe dentro delas”, explica Samuel Fonseca que faz parte da equipe de Educação Ambiental da Bica.

Visitas guiadas – A Bica oferece visitas guiadas, explorando informações sobre determinadas espécies e sobre o espaço. “Normalmente é feito um agendamento através de um e-mail (agendamentos.bica.gmail.com), onde é possível enviar um ofício, informando dados como a quantidade de pessoas, o dia, o turno, qual o motivo da visita, se é uma aula de campo, uma recepção, se quer tirar dúvidas, qual o tema da aula, se é sobre animais de cativeiros, animais de vida livre, sobre a Mata Atlântica, a preservação do ambiente ou outros temas relacionado à área ambiental”, complementa Samuel Fonseca.

Ele explica que nesse formato educativo também são reforçadas as orientações aos visitantes sobre o comportamento em grupo ou individual que deve ser adotado no Parque. Estão entre as orientações, manter o silêncio para evitar o estresse dos animais, não alimentar os bichos e não ultrapassar os limites indicados em cada recinto. Para ele, o ideal é explicar porque o bicho está ali, como chegou ao local, a importância da existência de espaços como a Bica para que as pessoas se conectem com a história e desenvolvam a empatia pelo espaço e pelos animais.

Visitantes – O grupo de estudantes do Educandário Santa Terezinha, da cidade de Caicó, Rio Grande do Norte, estava entusiasmado com o passeio no Parque. “Nós trouxemos a João Pessoa a turma do sétimo ano, para conhecer a história da cidade e a história da Paraíba. O Parque Arruda Câmara faz parte desse itinerário, onde também podemos falar das questões ambientais, do cuidado com os animais, da preservação das espécies, da flora e da fauna”, explica Edja Kelly, coordenadora pedagógica da escola.

A estudante Ana Júlia, de 12 anos de idade, ficou encantada. “É a minha primeira vez aqui na Bica e achei o parque muito bonito, maravilhoso. Eu estou amando essa experiência. O que mais gostei, até agora, foram os patos, os peixes, os macacos e agora os répteis. Está sendo uma experiência maravilhosa e ainda mais por poder compartilhar com meus amigos”.

Maria Luísa já conhecia a Bica. “Eu fiquei bem animada por vir aqui de novo. A primeira vez que eu vim foi com a minha família e fiquei impressionada ao ver os animais, o clima, as árvores, o contato com a natureza. É muito legal aqui”. Para ela, o recinto dos felinos não pode ficar de fora do passeio. “Eu não quero deixar de ver os leões, porque na primeira vez que eu vim não deu pra vê-los, porque eles estavam dormindo e desta vez espero poder vê-los”.

Felipe Volpin acredita que não vai esquecer do passeio. “A Bica foi o primeiro zoológico da minha vida. Eu tive uma sensação muito forte, porque era um sonho conhecer um zoológico. E eu tenho muito orgulho de ter como primeiro zoológico a Bica. Gostei muito dos animais que vimos até agora como as aves, os peixes, os patos. Está sendo uma experiência muito boa, que eu recomendo para todos. Vale a pena visitar porque transforma o seu modo de pensar a natureza. Você vem pensando uma coisa e sai pensando em algo mil vezes melhor. Eu gostei muito e espero voltar”.

A Bica – A Bica exerce um papel fundamental na conservação das espécies, na pesquisas e na educação ambiental. Para cuidar dos animais o Parque dispõe de dois veterinários, três biólogos, dois zootecnistas e um ecólogo, além da equipe de educação ambiental. O Parque conta com uma reserva de Mata Atlântica e diversos olhos d’água em seu território. Atualmente o Parque abriga um total de 420 animais entre pequenos e grandes mamíferos, aves e répteis, tanto silvestres, como exóticos.

Tráfico ilegal de animais – A população pode denunciar, anonimamente, o tráfico ilegal de animais pelos seguintes canais:
Ibama – Linha Verde: 0800 61 8080        
Ibama online: www.gov.br/ibama    
Polícia Militar Ambiental da Paraíba: (83) 3218-7222

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