Cultura popular

Funjope promove valorização da lapinha e começa por escola na Penha

16/09/2021 | 10:30 | 1321

A Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) vai iniciar um projeto de valorização da lapinha, uma cultura popular que já foi muito difundida, mas que caiu no esquecimento e hoje, na Capital, apenas uma resiste. Esse retorno será a partir de oficinas e começa em outubro, na Escola Municipal Antônio Santos Coelho Neto, na Praia da Penha, reunindo alunos de diversas comunidades do entorno, como a própria Penha e Jacarapé. O projeto de renascimento da lapinha é uma linha de trabalho educativo da Funjope, construído em parceria com a Secretaria de Educação (Sedec).

Nesta quarta-feira (15), o diretor executivo da Funjope se reuniu com a direção da escola para fazer o planejamento. “Consideramos que esse elemento pedagógico, educativo, quando discutido em sala de aula pode ressignificar e valorizar as culturas populares. Com isso, podemos envolver as crianças e também as famílias nessa retomada da lapinha, que é um folguedo popular extremamente tradicional no Natal e que nós precisamos salvar”, ressaltou o diretor executivo da Funjope, Marcus Alves.

As oficinas têm o objetivo de estimular essa retomada. “Hoje só existe uma lapinha que é formada por adultos. A intenção é que as infantis retornem, porque esse folguedo envolve diretamente crianças e, infelizmente, a tradição foi, aos poucos, acabando”, acrescentou. 

A diretora da escola, Rosilene do Bom Parto Ferreira, contou que a escola tem um trabalho de resgate, interação com a comunidade no aspecto cultural, gastronômico, pescaria. “Para nós, essa parceria só vai ampliar os nossos conhecimentos esse resgate histórico porque ninguém valoriza o que não conhece”, comentou.

Sonho realizado – “A lapinha é a realização de um sonho. Estávamos tentando resgatar a ciranda, o coco de roda e a lapinha, que era uma apresentação riquíssima muitos anos atrás em relação à festa da Penha. Hoje poucos conhecem”, declarou a diretora. O projeto vai alcançar crianças, familiares e funcionários.

“Estou muito feliz com essa iniciativa. Somos educadores e sabemos que, para fazer um planejamento se faz necessário conhecer o passado, se organizar no presente para que tenhamos um futuro. Para nós, é um prazer. A escola agradece essa indicação. Nós abraçamos a gestão e, com certeza, esse projeto vai nos dar muita alegria, resgatando realmente essa cultura popular que hoje está tão esquecida, mas não por nós”, completou.

Inicialmente, o projeto envolve 20 alunos com idades entre 8 e 10 anos e entre 12 e 14 anos, todos de comunidades como Aratu I e II, Jacarapé, Patrícia Tomaz, Iraque, Seixas, Vila dos Pescadores.

A lapinha – O Mestre Maciel, que será o responsável pelas oficinas, explicou que a lapinha vem de uma tradição católica muito antiga. “Lapinha é uma cultura vinda do catolicismo. Foi fundada por um grupo de freiras. Tem uma passagem na Bíblia que diz que Miriam, irmã de Moisés, dançou com tamborim. E essas freiras, que estavam limpando a gruta de Nossa Senhora, tinham acabado de ler esse trecho e, com pandeiro, pandeirola, começaram a cantar e dançar. Daí se originou a lapinha”, contou. Todas as jornadas da tradição falam de Jesus, Maria, Menino Deus, José.

O Mestre Maciel contou que tudo começa com uma marcha. Depois, as pastoras se recolhem e pedem licença a São José. O santo permite a entrada delas e, nesse momento, as pastorinhas cumprimentam o público que participa oferecendo contribuições em dinheiro para defender o cordão vermelho ou cordão azul.

Lapinha no sangue – Aos 12 anos de idade, o Mestre Maciel já participava da lapinha, fazendo percussão, e hoje, aos 77, diz que a cultura popular corre em suas veias e faz parte da história de sua família. No bairro do Rangel, há pastoras com mais de 90 anos, que em 1956 participaram da lapinha da mãe do Mestre. Houve época em que a cidade tinha 13 lapinhas.

“No começo, no Varjão, que hoje é Rangel, não tinha estrada, não tinha água, nem luz. A lapinha era à luz de candeeiro, mas sempre acontecia. No final do ano, a tradição é fazer a queima das roupas usadas. Tem também o anjo que sai com uma vela. É muito emocionante”, relatou. Recentemente, o Mestre Maciel fundou uma barca que se apresentou no projeto Rota das Letras, no Pavilhão do Chá.

Pular para o conteúdo